Sobre o Autor

Anderson C. Sandes nasceu no sertão alagoano, na cidade de Delmiro Gouveia, em 1991. Aprendeu a escrever em casa com sua mãe, antes de ir à escola. Tomou gosto pela literatura desde criança, ao ouvir muitas histórias, contadas principalmente por seu pai, avô materno e paterno. Além de causos e anedotas da família, costumava ouvir lendas dos tempos dos avôs, entre outros contos folclóricos oriundos da cultura nordestina. Seu avô paterno, Heleno, adorava contos de cordel, que por vezes recitava ao som de um violão.

Quando completou 5 anos mudou-se para Minas Gerais, onde permaneceu por quase dois anos; em seguida mudou-se para Santa Catarina, onde estudou até a sétima série, concluindo o ensino fundamental no Rio Grande do Sul. Depois retornou para sua cidade natal, onde concluiu o ensino médio e graduou-se em Pedagogia pela Universidade Federal de Alagoas. Em suas muitas viagens conheceu várias cidades, sobretudo no Sul do país, onde descobriu-se poeta.

Publicações do autor:

2013 • Participação na Antologia Ponto e Vírgula, Nº 4, Coordenação de Irene Coimbra. Funpec Editora, Ribeirão Preto, São Paulo. Crônica O Menino do Picolé.

2014 • Participação na Antologia Ponto e Vírgula, Nº 5, Coordenação de Irene Coimbra. Funpec Editora, Ribeirão Preto, São Paulo. Poema Quatro Notas.

2015 • Organizou a Antologia Quando Tudo Transborda

2016História da Educação: um estudo sobre as relações entre a educação, ciência e religião. Do antigo Egito ao Brasil imperial. Obra fruto de sua monografia para formação em Pedagogia.

2018 • Publicou de modo independente a primeira obra poética, Baseado em Fardos Reais.

2021 • Inspirado em aula de Ariano Suassuna, editou a obra Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens, de autoria de Matias Aires Ramos de Silva e Eça. Editora Estudos Nacionais, Florianópolis, Santa Catarina.

2022 • Organização da obra Machado de Assis: Escritos Seletos. Pius Edições, Florianópolis, Santa Catarina.

2022. Participação na Antologia Línguas de Fogo, organizada por Dennys Andrade, Editora BKCC. Três ensaios: 1. Pra não dizer que não falei de cultura popular e conservadorismo; 2. O POP como caminho para a alta cultura; 3. Conservadorismo X Juventude: um problema para ontem, hoje e amanhã.

2022Arte & Guerra Cultural: preparação para tempos de crise. Ibesec Editora, São Paulo, SP. Coautoria de Diogo Cruxen.


Vivo de poesia pra não morrer de razão.

Anderson C. Sandes

A seguir, prefácios de amigos escritores, que compõe a obra Baseado em Fardos Reais.

Prefácio I

Uma obra poética é a mais vangloriada forma de literatura. Ao perguntar para qualquer pessoa sobre se gosta ou não de poesia, um sim será a resposta mais comum. Todavia, ao passo que a poesia traz tanto sentimento positivo, ela também é uma ilustre desconhecida de nossos dias. Podemos começar com a simples questão de sua definição.:

O que é a poesia?

Ora, esse livro que o nobre leitor empunha possui muitos e bons poemas, versificados e com primorosos trabalhos fonéticos estilísticos e semânticos.

Mas seria isso a poesia?

Sabemos reconhecer um poema pela forma em versos, pela mancha gráfica que ele faz na página, mas será que todo poema é poesia? Ou melhor, só há poesia se há poema?

O consenso de todos é que não há consenso nenhum. Sabemos que a poesia só existe porque existe linguagem, e que, ao mesmo tempo em que se utiliza da linguagem para se expressar, a poesia cria sua própria linguagem. É a licença poética, como se os poetas pudessem romper as cadeias da língua para criarem novas formas de expressão. Por isso a própria estrutura do discurso pode ser diferente, em versos por exemplo.

Augusto de Campos, um dos principais expoentes da poesia brasileira e pioneiro do movimento concretista, contou certa vez uma anedota para tentar explicar o que é a poesia. Diz-se que um cego andava ao lado de seu amigo e guia, quando perguntou: “O que é o Branco?”. O amigo disse que era uma cor, mas não sabendo o que eram cores, o cego ficou sem entender. Então o amigo propôs o seguinte: “Ora um ganso é branco”, e fez com os braços o formato de um ganso, ao que o cego pode apalpar e perceber a forma, mais ou menos, da ave. Feliz, então, o cego diz ao amigo: “muito obrigado, agora eu sei o que é o Branco”.

A poesia ocupa, então, o espaço desse conceito inalcançável, mas nem por isso inexistente. Assim como a cor, que pode ser característica de muitas coisas, a poesia pode estar em várias linguagens de suporte, nas letras, nas artes gráficas, no som. Ela pode ser experienciada sempre que a linguagem excede a sua função primária de comunicar e nos oferece algo novo.

Certo é dizer, também, que o conceito de poesia varia conforme o tempo e o contexto, assim como acontece a toda forma de arte. Uma lata de sopa pode ser algo banal, mas desenhado por Andy Warhol, a sopa Campbell’s é um item de arte valiosíssimo. Assim como a linguagem só é possível numa relação, a poesia também.

Muitos poetas dedicam grande parte do seu trabalho para falar de poesia, como se houvesse uma necessidade de expô-la, de justificá-la ou mesmo de alcançá-la. Esse sentimento, porém, não aparece tão evidente na obra de Anderson, poeta já pronto que traz ao leitor todas as nuances e cores que a poesia apresenta.

Por um lado, temos o trabalho esmerado de Anderson ao criar imagens que apenas a poesia possibilita, com palavras e termos que surgem do impacto entre opostos, com o intenso uso de aliterações e uma musicalidade que traz o melhor do cordel ou das redondilhas do grande mestre João Cabral de Mello Neto.

Mas, assim como o grande poeta pernambucano, Sandes não fica apenas na superfície da estrutura do poema. Antes, aprofunda temas demasiadamente humanos e eleva a função da poesia de ser vanguarda não apenas da linguagem, mas também do pensamento e da reflexão.

Vemos isso claramente em “Belo” um poema que expõe o conceito de beleza com questionamentos aparentemente pueris, mas que nos obriga a pensar na beleza da vida e da morte, e associar o belo ao bom – ou não.

Essa linguagem aberta também é característica da poesia que Anderson C. Sandes se utiliza com grande tranquilidade.

Como um amante da poesia, me sinto honrado em encontrar em um poeta tão jovem uma poesia tão robusta e madura.

Mas não posso terminar essa breve apresentação dando a impressão de um academicismo enfadonho nos poemas que se seguem.

Muito pelo contrário, os poemas de Anderson C. Sandes são belos e divertidos, e nos fazem pensar, sem a necessidade de ser um acadêmico ou literato.

Sua obra “baseado em fardos reais” fala com a alma do homem comum e traz a coragem do poeta de colocar a si mesmo em seus poemas.

Nos identificamos com os conselhos, nos deliciamos com as aliterações e trocadilhos poéticos, refletimos com seus questionamentos e, sobretudo, temos a poesia em sua essência etérea e inalcançável materializada nas letras dos poemas de Anderson.

A leitura deste livro trará ao leitor, com certeza,  crescimentos diversos, aprendizados e saltos tanto na poesia quando nos temas que ela aborda. Nesse sentido, é notável o trabalho do autor em disponibilizar um pequeno glossário para auxiliar o leitor em sua caminhada por seus poemas.

Conheço a poesia de Anderson há alguns poucos anos, onde partilhávamos de poemas e considerações poéticas. Hoje me sinto grato, como um amante dessa arte, em apresentar este poeta pronto e com tanto a dizer para o leitor em versos para ler, reler e sentir, como a leve pena de um etéreo ganso a penetrar pela pele do leitor.

Éder Rafael de Araújo

Prefácio II

Há poetas que expressam em sua obra um trabalho de construção, quase uma engenharia. Há poetas que expõem seus avessos, embriagados de sentimentalidades, transbordando ideias e emoções. Esse livro nos apresenta um jovem poeta alagoano que é beneficiado pelo hábito da leitura e, portanto, é portador de privilegiada e ampla visão de mundo. Anderson C. Sandes parece se divertir enquanto nos apresenta poemas portadores de características essenciais nos tempos atuais: intertextualidade e polifonia. Inclusive na incrível obra de sua capa.

Há uma pedra no caminho
No caminho que trilhei
Criativo como sou, dei-a nome
E de Andrade a batizei.

Sendo assim, extrai excelentes construções que exalam os mais diversos sentimentos. Trabalha a profundidade e a sutileza, a sensibilidade e o concreto, o verdadeiro e a brincadeira. Enquanto utiliza-se de elementos próprios do ambiente que reconhece como seu pontuando o sertão, a caatinga, a seca, a morte, confronta-nos com o universal ao cultuar o belo, ao nos movimentar na dança das palavras, ao nos exortar com repetições necessárias.

Sem tempo pra papo
Sem tempo pra pipa
Sem tempo pra visita
Sem tempo pra visitar
Sem tempo pra si
Sem tempo pra dó
Lá lá lá…

Seus poemas nos instigam a buscar mais. Atraem-nos ao espelho.

Escrevo canções
Que não serão cantadas…
Poemas que não serão lidos…
Conselhos destinados a não serem ouvidos…
Tenho a capacidade de não ser entendido…
Nem entre amigos.
Nem entre amigos.

Como admiradora do mundo poético e crendo na premissa de que a poesia faz bem a alma, convido aos leitores que conheçam e julguem esse delicioso trabalho. Exercer a crítica literária em um livro como esse permitirá que exercitem e ampliem seus conhecimentos.

Elaine Leal de Oliveira, amiga e poeta.

Prefácio III

Com muita honra recebi o convite para contribuir com o prefácio de “Baseado em Fardos Reais”. Aceitei na hora. Mas, confesso, depois, peguei-me pensando: “E agora? Eu não sou poeta. Como vou falar sobre o assunto?”. Bem, era uma preocupação justa, mas, que se desfez na medida em que avançava na leitura do livro. De fato – e isso eu aprendi com o passar do tempo –, a poesia não é uma ciência em si, não é um tema a ser estudado ou investigado intelectualmente, mas, sobretudo, sentido. Conforme as páginas passavam, mais eu percebia que a missão da poesia não é, nem nunca foi, colocar o leitor em contato com algum tema, objeto ou evento que é apresentado no texto; pelo contrário, ela deve nos aproximar de nós mesmos, uma vez que, conhecendo os sentimentos que surgem diante daquela literatura, ficamos sabendo mais sobre nós do que sobre o objeto do texto em si. Neste sentido, o caráter de um poema não está tanto no assunto do qual ele discorre, mas, com certeza, nas emoções que discorrem diante do assunto.

“Os críticos podem dizer que determinado poema, longamente ritmado, não quer, afinal, dizer senão que o dia está bom. Mas dizer que o dia está bom é difícil, e o dia bom, ele mesmo, passa. Temos, pois, que conservar o dia bom em memória florida e prolixa, e assim constelar de novas flores ou de novos astros os campos ou os céus da exterioridade vazia e passageira”.

Fernando Pessoa, no Livro do Desassossego, traz para nós a noção de importância que têm as coisas do cotidiano, romantizadas, tornadas poesia. Escreve ele que o simples passa pela consciência desatenta do indivíduo, entorpecido pela naturalidade com que os momentos escorregam através dos dedos e se tornam passado, antes mesmo de terem sido presente. O poeta, que, fez poesia como ninguém, acredita que aquilo que impede que este inevitável processo aconteça é, sem dúvidas, a conservação daquilo que é comum e corriqueiro, na memória, como algo épico, enriquecido de detalhes e valorizado como algo simples – sim –, porém, extraordinariamente simples.

Concordo com ele. De fato, ao ler as estrofes arrumadas por Anderson, o poeta que se propôs a juntar o seu brilhante trabalho neste livro que tenho a honra de fazer o prefácio, posso entender um pouco mais sobre ele, sobre Fernando Pessoa e sobre mim. Entendo, agora, lendo “Que Coisa Terrível”, “Ave Preta” ou “Humor Solitário”, que Anderson faz questão de trazer para as nossas vidas a magia da poesia, naquilo que existe de mais habitual.

Ora, valorizar os grandes feitos, os grandes instantes, o sucesso… que mérito poderíamos ter ao romantizar momentos grandiosos, que já são majestosos aos olhos rudes até mesmo do mais bruto dos homens? Para extrair, pois, a poesia daquilo que é pequeno e discreto, é preciso alguém com sensibilidade digna de poeta. E é com isso que Anderson nos presenteia com “Baseado em Fardos Reais”.

Mas, não só. Apesar da habilidade perspicaz de Anderson para romantizar a realidade que nos cerca, o astuto autor fala também – como não poderia deixar de ser – de coisas grandes, sim. Eis, então, os sentimentos, que afligem, alegram, angustiam e fazem-nos vibrar ou chorar. Em alguns exagerados, encontram-se dramaticamente valorizados; em outros insensíveis, são tragicamente deixados de lado; mas, que, certamente, de uma forma ou de outra, são a razão central de nossa existência.

Não poderia existir vida sem os sentimentos. Não a vida humana, pelo menos. O sentimento é o que nos eleva e o que nos coloca em contato com a alma; um escape do aprisionamento à carne a que somos sentenciados pelo simples fato de sermos humanos. Mas, mesmo que todos sejam capazes de sentir os seus próprios sentimentos, apenas um poeta está apto a apresentar esses sentimentos ao público, levá-los de um a um, e democratizá-los, na medida em que podemos sentir a dor do outro, sorrir com a felicidade alheia e sofrer com os amores que não são nossos, pelo gesto nobre de condensar em estrofes populares aquilo que se passa, tão somente, na relação fechada de um solitário sonhador com o seu pedaço de papel em branco.

“Toda a literatura consiste num esforço para tornar a vida real. Como todos sabem, ainda quando agem sem saber, a vida é absolutamente irreal na sua realidade direta; os campos, as cidades, as ideias, são coisas absolutamente fictícias […]. São intransmissíveis todas as impressões salvo se as tornarmos literárias.”.

Fernando Pessoa insiste, ainda, em seus escritos, em consolidar a missão da literatura. Para ele, as coisas da realidade só se tornam efetivamente reais, quando as tiramos do campo da inteligência abstrata e as transformamos em sentimentos, através das linhas escritas em um livro velho que se mantém na estante esperando que estejamos abertos àquilo que ele mais tem a fazer por nós: realinhar a ordem de sentidos e dar foco naquilo que mais importa, primeiro, e para o que menos importa, depois. É com este sentimento que termino a leitura desta obra valiosa e convido o leitor a se aprofundar, não só na apreciação do livro, mas em si mesmo, diante das doses de reflexão e introspecção que o autor nos oferece, aqui.

Pedro Delfino, autor do livro Mentalidade Atrasada, Nação Fracassada.