Um bom homem deve levar
Na cabeça um bom chapéu
Tira-se o chapéu
Para respeitar alguém
Ou um ambiente respeitável
À moça que passa
Ao rapaz que observa
À nave da capela
Poesia
Chega a noite
Chega a noite
Vão-se as moscas
Voltam-se os mosquitos
As primeiras zumbirão suas filosofias
Larvais em outros ares
Os segundos querem sangue
E ferem mais fundo
Mais profundo na gente
Que bate, que bate
Que mata
Caraibeira
Qual caraibeira florescida
com vagens verdinhas e longas
surgi, depois d’um inverno quente
e longo verão brasil.
Com vergonha dos pardais
calei o canto rouco da manhã;
manhã que logo veio,
sem que percebesse meus olhos.
Bole bole, criança
Esses terreiros tortos
com crianças buliçosas só têm aqui!
Pr’acolá pode ter… mas não é igual,
boa bagunça e gritaria só em nosso quintal.
Esses campinhos de areia
com crianças malinas só têm aqui!
Pr’acolá pode até ter… mas é diferente,
nenhuma perna cambota faz gol como a gente.
Das memórias que perdi
Quem seria eu agora,
sem saber quem fora em outrora?
Se dantes fui moço,
tento debalde recordar das paixões…
[…] oxalá! Que eu tenha tido, meu Deus!
Fito as pinturas nas paredes,
sem saber se as amava ou as detestava.
Oh, como é bela aquela tela,
que eu achava antes dela?
Nem sei mesmo quem a pintou.
Pena do Tinteiro
— Onde está a tinta
para minha pena?
— Tomei-a, pensando
ser ela tóxica,
não era, todavia.
— Onde está a tinta?
— Oh, que pena!
Cuspo-a agora
em papel picado
cada palavra vã.