Crônica, Texto

Eu quase fui “livre” — e ainda bem que não fui

Bible reading (1831), by Eduard Karl Gustav Lebrecht Pistorius

Eu tive um vizinho que era muito descolado, tocava em uma banda de rock, andava de skate, usava roupas radicais, saía e voltava à hora que queria. Eu, adolescente de interior, criado com pai e mãe caxias, sonhava em ser como o Bob — chamarei assim para preservar sua privacidade —, livre como o vento.

Crônica, Texto

O poeta e o guardador de rebanhos

A Jutland Shepherd on the Moors, 1855, by Frederik Vermehren

O poeta como pastor de ideias: da simplicidade de Caeiro à força da metáfora que une criação e cuidado. Uma reflexão entre poesia, etimologia e simbolismo.

Crônica, Texto

Educação para a sociopatia 

Recentemente conversava com minha esposa, professora, sobre educação. Nos últimos anos, queixava-se ela, recebeu — e ainda recebe — diretrizes estranhas das escolas onde trabalhou, sobre assuntos que deveria tratar e não tratar, das palavras que poderia usar e não usar, entre outras coisas que sempre deixam pesar a consciência de bons professores, que precisam de seus empregos.

Crônica, Texto

O velho conflito entre o que é bom e a novidade 

The Deposition of Christ (1507) by Raphael

O professor Ernst Gombrich conta-nos em sua obra A História da Arte que, por volta de 1520, a pintura havia atingido o auge da perfeição. “Homens como Michelangelo e Rafael, Ticiano e Leonardo conseguiram levar a cabo tudo o que as gerações anteriores haviam tentado realizar”, disse ele.

Ensaio, Texto

Logos X Legos: a guerra poética que a direita inculta não percebe 

Este é um assunto complicado, do qual pretendia falar há cerca de dois anos, mas sempre temi ser mal compreendido — normal para um poeta na modernidade —, taxado de arrogante e coisas do tipo. Mas, como num lampejo de obviedade, percebi que, quando o assunto é cultura, a taxa de leitores cai, e quando se trata de compreensão, os números descem ainda mais.

Crônica, Texto

O Brasil não tem povo 

Num arroubo poético, em 1922, Lima Barreto afirmou que “o Brasil não tem povo, tem público”. A frase estava inserida num contexto futebolesco, mas acima de tudo, num espírito brasileiresco, país do futebol (e do carnaval).

Crônica, Texto

“Coringa 2” e a semelhança com “Dom Quixote 2”

Alerta de duplo spoiler! — “Coringa: delírio a dois” é quase que uma remontagem de Dom Quixote e eu posso demonstrar: Dom Quixote representa o louquinho, deslocado da realidade, transforma moinhos de vento em monstros perigosos, como fazem as cabeças repletas de ideologias de hoje, não é mesmo?

Cultura, Texto

Escritores, crianças e Freud explicando…

Nós, leigos, sempre sentimos uma intensa curiosidade […] em saber de que fontes esse estranho ser, o poeta, retira seu material, e como consegue impressionar-nos com o mesmo e despertar-nos emoções das quais talvez nem nos julgássemos capazes — Sigmund Freud, O poeta e o fantasiar (1908)

Crônica, Texto

Quando os filmes de heróis vão saturar?

Quando o assunto é arte, uma coisa é certa: em algum momento essa e aquela tendência vão saturar, esgotar. Isso ocorre na literatura, pintura, arquitetura e também com o cinema. Determinada corrente, escola ou movimento passa a não responder mais aos anseios daquele tempo, passando então à substituição, incorporação, absorção ou até ostracismo.

Cultura, Texto

Teoria platônica da beleza: o que é o belo em Platão?

Platão acreditava no chamado Mundo das Ideias que, grosso modo, consistiria numa espécie de reino transcendental e eterno de formas ou ideias perfeitas. Para o filósofo, esse mundo das ideias seria a verdadeira realidade, enquanto o mundo físico que percebemos com nossos sentidos é apenas uma sombra ou reflexo imperfeito desse mundo das ideias. Essa ideia, claro, iria nortear a sua visão sobre a beleza.