Poesia

Cada dia

Michelangelo Merisi da Caravaggio [David and Goliath], 1599 (Detalhe)

Voam as moscas num tom de fá,
Zum zum zum infernal
Em meio aos corpos fétidos.
Geme a marreta em atrito
Com a bigorna…

Nunca fui de apascentar
As ovelhas de meu pai,
Nunca tive a oportunidade
De tocar arpa para meu rei.
Tiraram-me o rei,
Roubaram-me a pátria.
A companhia que tenho
É um gigante por dia,
Que tenho que matar;
Mato-os pra não morrer.
Estou tão cansado,
Queria ler Dostoievski
Ou talvez Pascal…
Mas reparo meu escudo,
Amolo minha lâmina…
Amanhã mais um gigante
Pedirá minha alma.
De onde diabos eles vêm?
Amanhã pedirão minha alma.
Lutarei!
Quem sabe seja a última batalha.
Pra mim ou pra eles?
De qualquer forma,
Descansarei em paz.

Anderson C. Sandes — Abril de 2017

Publicado por Anderson C. Sandes

Poeta, cronista, ensaísta, autor de Baseado em Fardos Reais; Arte e Guerra Cultural: preparação para tempos de crise; organizador da Antologia Quando Tudo Transborda. Pedagogo. Vivo de poesia pra não morrer de razão.

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