Poesia

Que coisa terrível

Santiago Rusiñol [Senyor Quer in the Garden], 1889 (Detalhe)

Oh, que coisa terrível
parecia fazer aquele homem.
Todos olhavam, se cutucavam e apontavam.
— De que se trata?
Perguntavam os desavisados,
que de longe forçavam as vistas
para ver o conteúdo que o indivíduo portava.

Ah, que coisa assustadora
parecia fazer aquele homem.
Poucos tinham visto algo igual,
mesmo os que viram em outrora
se espantavam com a cena.
— Se acha melhor que nós?
Pensava aquele inconsciente coletivo,
calado, mas não em silêncio.

Ora, mas que coisa espantosa
parecia fazer aquele homem
segurando aquele objeto belo e temível…
poucos tinham algo igual em suas casas
(pobres almas embrutecidas)
— Quem ele pensa que é?
Ecoavam os pensamentos da massa
que seguia indignada pra cima e pra baixo

A despeito de tudo,
continuava aquele homem ali,
severo, calado, de pernas cruzadas,
a ler o seu livro… em paz. 

Anderson C. Sandes — Agosto de 2017

Publicado por Anderson C. Sandes

Poeta, cronista, ensaísta, autor de Baseado em Fardos Reais; Arte e Guerra Cultural: preparação para tempos de crise; organizador da Antologia Quando Tudo Transborda. Pedagogo. Vivo de poesia pra não morrer de razão.

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