Poesia

Esta cidade

Natalia Mikhalchuck [Vilnius evening], 2013 (Detalhe)

Fico cá nesta cidade
Com seus muitos becos
Suas muitas ruelas
De jovens parados
E afazeres efêmeros
Julgo eu, todavia.

Pr’onde iria eu…
Se tudo que tenho
De realmente meu
Nesta vida
São algumas feridas
Cicatrizes contam?

Quem me dera ter o que contar
Tudo que conto são meus sonhos
Uns três ou quatro…
Depende se chove ou faz sol
Sempre faz sol por aqui
Que inferno, meu Deus!

Cansa-se por nada
Cansa-se de ser, de estar
Faz-se austero pra viver
Pra não ser engolido
Por essas casas feias (e infelizes)
Cheias de muros (que sorriem)

Creio já ter sido engolido
Creio ter amolecido
E como não?!
Sempre faz sol por aqui
Que inferno, meu Deus!
Julgo eu, todavia

Tornei minhas noites claras
Tornaram-se trevas os meus dias
Inda que faça sol… “Fiat lux”
…   …   …
Que eu não morra por aqui…
Mas se eu morrer…
Que esteja a chover, meu Deus.

Anderson C. Sandes — Fevereiro de 2017

Publicado por Anderson C. Sandes

Poeta, cronista, ensaísta, autor de Baseado em Fardos Reais; Arte e Guerra Cultural: preparação para tempos de crise; organizador da Antologia Quando Tudo Transborda. Pedagogo. Vivo de poesia pra não morrer de razão.

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