Poesia

Pena do Tinteiro

Amand Gautier [Portrait du poète Armand Silvestre], 1884 (Detalhe)

— Onde está a tinta
para minha pena?
— Tomei-a, pensando
ser ela tóxica,
não era, todavia.

— Onde está a tinta?
— Oh, que pena!
Cuspo-a agora
em papel picado
cada palavra vã.

— Onde está a tinta?
— Ora, tomei-a,
já vos falei.
Tornei-me agora
tinteiro.

— Onde está a tinta, oh infeliz?
— A tinta habita em mim,
sou eu agora o tinteiro.
— E a pena?
— Sinto pena de mim.

— Basta!

Anderson C. Sandes — Outubro de 2018
Jean-Baptiste-Siméon Chardin. Untitled (1738)

Publicado por Anderson C. Sandes

Poeta, cronista, ensaísta, autor de Baseado em Fardos Reais; Arte e Guerra Cultural: preparação para tempos de crise; organizador da Antologia Quando Tudo Transborda. Pedagogo. Vivo de poesia pra não morrer de razão.

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