Poesia

Quatro notas

Antoine Watteau [Mezzetin], 1718–1720 (Detalhe)

Poema dedicado a Tailan Cavalcante, que descansa em paz. Durante à noite, estávamos juntos entre outros, a cantar ao som de um violão; durante o dia, estávamos todos em volta de seu pálido caixão. Faleceu enquanto dormia. Tive a oportunidade de recitar um poema — que já não tenho mais — em sua missa de sétimo dia. Mesmo num momento de muita tristeza, a sua memória nos alegrava.

Foram me acordar pra dizer que você dormiu
À noite, estava de pé com seu violão
De dia deitou, com as mãos sobre o peito

Sabe, hoje toco as notas que você me ensinou
Daquela linda canção, que cantávamos juntos
À noite, sempre à noite

Eu queria contar sobre um livro que li
Tenho certeza que iria gostar…
Apesar de não ter dragões

Veja, nos ainda visitamos a sua casa
E sempre rimos de tuas antigas palavras
À noite, sempre à noite

Foram me acordar pra dizer que você dormiu
À noite, estava de pé com seu violão
De dia deitou, com as mãos sobre o peito

Hoje somos mais do que éramos antes
Na verdade isso tanto faz
Seu lugar ainda está lá, vazio

Mas à noite, sim, sempre à noite
À luz de tua estrela favorita ficamos
Empunhamos espadas e vestimos armaduras
Apesar de não ter dragões 

Foram me acordar pra dizer que você dormiu
À noite, estava de pé com seu violão
De dia deitou, com as mãos sobre o peito

Anderson C. Sandes — Abril de 2014

Publicado por Anderson C. Sandes

Poeta, cronista, ensaísta, autor de Baseado em Fardos Reais; Arte e Guerra Cultural: preparação para tempos de crise; organizador da Antologia Quando Tudo Transborda. Pedagogo. Vivo de poesia pra não morrer de razão.

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