Poesia

Ave preta

Imagem: Francisco Souza / Flickr (com edição)

Oh, aquela ave preta
sobre galhos rijos cinzentos.
Oh, meu sertão que se encontra verde,
tudo um pouco mais belo.
Mas a ave insiste co’a morte
ao pousar naqueles galhos podres.
— Podres, mas rijos.

Oh, aquela ave preta
a fitar ao longe algo a comer.
Oh, quão belos estão os montes,
rico em fauna pequena e indefesa.
Mas a ave insiste co’a morte
a buscar mais um cadáver.
— Cadáver, mas manterá uma vida.

Ah, aquela ave preta
e fétida com o fim em seu bico.
Ah, quantos frutos e brotos,
tudo tão maduro e gostoso.
Mas a ave insiste co’a morte
a devorar aquelas carnes podres.
— Podres, mas vívidas.

Ah, aquela ave preta
e elegante ao planar por instantes.
Ah, quantas outras aves tão belas,
sabiá, bem-te-vi e canarinho.
Mas a ave insiste co’a morte,
associa-se a amantes de vísceras.
— Vísceras, que as fazem completas.

Anderson C. Sandes — Maio de 2018

Publicado por Anderson C. Sandes

Poeta, cronista, ensaísta, autor de Baseado em Fardos Reais; Arte e Guerra Cultural: preparação para tempos de crise; organizador da Antologia Quando Tudo Transborda. Pedagogo. Vivo de poesia pra não morrer de razão.

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