Sobre Poesia

As categorias da beleza (visão objetiva) — Ariano Suassuna

Aristóteles e as Categorias da Beleza

A Estética moderna procura fazer do Belo apenas um dos tipos possíveis de algo mais amplo, que os pós-kantianos chamaram de Estético e que, aqui, chamamos de Beleza. Já examinamos tal problema antes, dando razão àqueles que assim agem; pois não se pode compreender que se confundam sob uma só denominação o Belo, que só desperta sentimentos agradáveis e serenos na sua fruição, e outros tipos de Beleza, como, entre outros, o Trágico, cuja fruição é misturada de sensações de “terror e piedade”, segundo acentuava Aristóteles.

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O feio na arte — Ariano Suassuna

Arte Feia e Arte do Feio

Quando abordamos o estudo das fronteiras da Beleza, já esboçamos, de passagem, o problema do Feio, mostrando que nem sempre os artistas eram atraídos pelo Belo, isto é, por aquela forma especial de Beleza que se baseia naquilo que, na Natureza, já é belo e que se caracteriza pela harmonia, serenidade e equilíbrio nas proporções. Dissemos que existem artistas que, pelo contrário, acham as formas mais ásperas do Feio mais expressivas, menos comuns, menos tendentes ao sentimentalismo, à pieguice, à uniformidade e à monotonia.

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Athena — Fernando Pessoa

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Tem duas formas, ou modos, o que chamamos cultura. Não é a cultura senão o aperfeiçoamento subjectivo da vida. Esse aperfeiçoamento é directo ou indirecto; ao primeiro se chama arte, ciência ao segundo. Pela arte nos aperfeiçoamos a nós; pela ciência aperfeiçoamos em nós o nosso conceito, ou ilusão, do mundo.

Como, porém, o nosso conceito do mundo compreende o que fazemos de nós mesmos, e, por outra parte, no conceito, que de nós formamos, se contém o que formamos das sensações, pelas quais o mundo nos é dado; sucede que em seus fundamentos subjectivos, e portanto na sua maior perfeição em nós — que não é senão a sua maior conformidade com esses mesmos fundamentos —, a arte se mistura com a ciência, a ciência se confunde com a arte.

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O Poeta e o Fantasiar — Sigmund Freud

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Nós, leigos, sempre sentimos uma intensa curiosidade — como o Cardeal que fez uma idêntica indagação a Ariosto — em saber de que fontes esse estranho ser, o poeta, retira seu material, e como consegue impressionar-nos com o mesmo e despertar-nos emoções das quais talvez nem nos julgássemos capazes. Nosso interesse intensifica-se ainda mais pelo fato de que, ao ser interrogado, o poeta não nos oferece uma explicação, ou pelo menos nenhuma satisfatória; e de forma alguma ele é enfraquecido por sabermos que nem o melhor discernimento dos determinantes de sua escolha de material e da natureza da arte de criação poética em nada irá contribuir para nos tornar poetas.

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Tradição e Talento Individual — T. S. Eliot

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I

Nos textos ingleses é raro falarmos de tradição, embora ocasionalmente utilizemos essa palavra para lamentar a sua ausência. Não sabemos nos referir à “tradição” ou a “uma tradição”; quando muito, empregamos o adjetivo para dizer que a poesia de fulano é “tradicional” ou mesmo “muito tradicional”. A palavra só ocorre talvez raramente, exceto numa frase de censura. Ao contrário, ela é vagamente aprobatória, se envolver, como no caso de um trabalho reconhecido, alguma deleitosa reconstrução arqueológica. É difícil tomarmos a palavra agradável aos ouvidos ingleses sem essa cômoda referência à tranquilizadora ciência da arqueologia.

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Poesia e Metafísica — Maria Zambrano

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Apresentação: Dos filósofos alguns há que têm o olhar raso, laminador, e tentam reduzir tudo a simples superfície, às dimensões estritas por eles consideradas admissíveis. O que não se ajusta nem cabe na sua arbitrária fórmula do real pressupõe-se, por uma espécie de dictatus voluntarista, que não existe, que não tem relevância, que é fictício, espúrio ou sem valor. Pretendem ser exactos, mas é provável que, com frequência, apenas se lhes obscureça e escape a densidade, a riqueza, a convolução misteriosa do universo físico ou humano nos seus pressupostos mais fundos e nos seus acenos mais discretos e insinuantes.

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Poesia e Filosofia — Olavo de Carvalho

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Apostilas do Seminário de Filosofia — 21

Excerto do § 1 do Prólogo da obra em preparação, O Olho do Sol: Ensaio sobre a Inteligência. Como certas discussões havidas em classe na última rodada do Seminário de Filosofia mencionassem este texto, do qual a maioria dos alunos não possuia cópia, decidi colocá-lo aqui à disposição de todos os visitantes desta homepage. O Olho do Sol é um calhamaço, a esta altura com seiscentas páginas e ainda bem longe de sua conclusão, onde reúno, ordeno e explico melhor (espero) as coisas que vim lecionando nos últimos anos sobre teoria do conhecimento. — O. de C.

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Poesia e Ideologia — Otto Maria Carpeaux

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Devo ao meu amigo José de Queiroz Lima a sugestão de aplicar à relação entre poesia e ideologia o resultado da leitura do livro Practical Criticism, da autoria do eminente crítico inglês I. A. Richards. Era uma leitura dificílima: um estudo muito técnico, baseado em documentação imensa, e que ficou — o próprio livro — no estado de documentação. Contudo, valia a pena: é talvez o primeiro livro rigorosamente científico sobre poesia. Vale a pena abrir as brenhas compactas dessas investigações psicológico-pedagógico-estéticas, reunindo-as a outros resultados, alheios e próprios, extraindo-Ihes uma doutrina. Vamos ver, então, que a poesia mais velha e a poesia mais moderna, igualmente, não se compreendem sem o conhecimento das ligações íntimas entre poesia e ideologia. Vamos ver, então, que o estudo de I. A. Richards é um dos livros mais espantosos que existem: um livro que abre novos horizontes ao mundo de luz da poesia, que abre novos horizontes ao mundo noturno da humanidade.

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Do Épico e do Lírico — Massaud Moisés

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I

Preliminares. As artes poéticas, as teorias literárias, as retóricas tradicionais têm insistido num ponto que está a merecer cuidadoso reexame. Trata-se do conceito de poesia lírica e poesia épica, e suas diferenças fundamentais. Comecemos por entender que a palavra lírica deriva de lira. Os poetas gregos, e depois os latinos, recitavam e cantavam suas composições ao som desse instrumento, que se prestava perfeitamente como acompanhamento e pano de fundo musical. O poeta exprimia seu mundo “subjetivo, interior, os sentimentos, as contemplações e as emoções da alma”, como diz Hegel em seu Curso de Estética (3ª parte, 3.a secção, “Poesia”, Cap. Ill, Das diferentes espécies de Poesia). Com o tempo, a lira (ou qualquer outro instrumento que veio a ser usado: alaúde, flauta) foi posta de lado. Apoesia passou apenas a ser recitada, nos fins da Idade Média. Entretanto, o caráter musical permaneceu, embora transformado e atenuado. Seu conteúdo manteve-se aquele dos começos, e ainda hoje a poesia lírica se diferencia por ser subjetiva, traduzindo emoções e sentimentos íntimos do poeta.