Poesia

Chega a noite

Vincent van Gogh [Starry Night Over the Rhône], 1888 (Detalhe)

Chega a noite
Vão-se as moscas
Voltam-se os mosquitos
As primeiras zumbirão suas filosofias
Larvais em outros ares
Os segundos querem sangue
E ferem mais fundo
Mais profundo na gente
Que bate, que bate
Que mata

Traz a noite suas delícias
Outras cores, menos cores
Mais sabores e odores
Ou insossas dores
Traz as noites seus feitiços
Outras luzes, menos luzes
De luzeiro menor
Menos violento
Que vê mais violência
Com sua face nas trevas

Vem a noite
Ao prazer do melancólico
Por vocação
Que a absorve em panos crus
As espreme em jarra larga
E terá o licor necessário
Para durar mais um dia
Que trará a filosofia das moscas
Que saram os estigmas
Daqueles segundos malditos
Que ferem mais fundo
Ao profundo homem

Anderson C. Sandes — Abril de 2019

Publicado por Anderson C. Sandes

Poeta, cronista, ensaísta, autor de Baseado em Fardos Reais; Arte e Guerra Cultural: preparação para tempos de crise; organizador da Antologia Quando Tudo Transborda. Pedagogo. Vivo de poesia pra não morrer de razão.

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