Poesia

Conselhos d’um ermitão urbano

Berthold Woltze [Good Advice Is Expensive], 1873 (Detalhe)

Cala-te, oh boca cansada!
Afia tua língua entre os dentes,
a fim de seres mortal,
a fim de não seres banal.
 
Fala, oh lâmina afiada!
Choca aquele que escuta!
Dá-lhe um golpe de verdade,
dá-lhe perturbações à alma.
 
Descansa para poderes tirar o sono!
Tira os sonos de outrem,
deixe-os em claro… na luz.
Deixe-se descansar nas trevas.
 
Que teus olhos vejam muitas terras,
que vejam mais que os pés.
Que se cansem os teus pés,
mas que as vistas continuem a viagem.
 
Mantenha limpa suas vestes,
e vibrante tua capa…
Carregue sempre flechas em sobra,
carregue o que não te enfade.
 
Afasta-te do tolo e dos seus lábios,
afasta-te da vulgar e dos seus lábios,
afasta-te por penitência…
por seres tolo e vulgar.
 
Aproxima-te do sábio e dos seus lábios,
aproxima-te da virtuosa e dos seus lábios,
aproxima-te por penitência…
por seres tolo e vulgar.
 
Não grite para os surdos,
não emudeça pra quem tem sede,
não lance pérolas aos porcos,
não emporcalhes o que é precioso.
 
Se esqueceres de todo o conselho
lembra-te apenas deste:
Clamai alto e longo por sabedoria,
por seres tolo e vulgar.

Anderson C. Sandes — Abril de 2018

Publicado por Anderson C. Sandes

Poeta, cronista, ensaísta, autor de Baseado em Fardos Reais; Arte e Guerra Cultural: preparação para tempos de crise; organizador da Antologia Quando Tudo Transborda. Pedagogo. Vivo de poesia pra não morrer de razão.

Um comentário sobre “Conselhos d’um ermitão urbano”

  1. Curso de auriculoterapia disse:

    Aqui é a Fernanda parabéns pelo conteúdo do seu site gostei muito deste artigo, tem muita qualidade vou acompanhar o seus artigos.

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