Poesia

Da vida

Jacob van Hulsdonck [Still Life with Lemons, Oranges and a Pomegranate], 1620–1640 (Detalhe)

Já vi alguns invernos
Já vi alguns infernos
Vi infernos em invernos 
E invernos em infernos

Com cantos tristes já sorri
Com cantos alegres já chorei
Em cantos tristes já me ri
Em alegres cantos lamentei

Em todo canto ouvi (e houve) um canto 

Já estive seco na garoa
E já no sol eu me molhei
Em seca fiz colheita boa
Com meu suor eu já reguei

Já fiz limão de limonadas
Me reverti e me fiz também 
Deixei das jarras adoçadas 
Pois o azedo eu quero bem

Em algumas trevas já fui luz
Em algumas luzes fui escuro
Mas nessa vida eu nunca pus 
Minha cabeça sobre o muro

Na ordem já fiz anarquia
Já na revolta fiz reação
Hoje vivo de poesia 
Pra não morrer de razão

De tão conservador conservo a dor
Em algumas delas me libertei 
Aprendi com vida algum valor
Até a morte os levarei

Anderson C. Sandes — Setembro de 2017

Publicado por Anderson C. Sandes

Poeta, cronista, ensaísta, autor de Baseado em Fardos Reais; Arte e Guerra Cultural: preparação para tempos de crise; organizador da Antologia Quando Tudo Transborda. Pedagogo. Vivo de poesia pra não morrer de razão.

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