Fichamentos e Resenhas

Defesa da Poesia — Sir Philip Sidney

Sir Philip Sidney (1554–1586) foi cortesão, político, soldado, poeta inglês nascido em Penshurst, Kent, patrono das ciências e das artes da Inglaterra. De família nobre e influente, foi educado para seguir a carreira política e militar. Estudou em Oxford e em seguida, durante três anos, viajou pela Europa, quando aperfeiçoou seu domínio do latim, francês e italiano. Familiarizou-se com a política européia e travou conhecimento com vários chefes de estado.

Assim, foi enviado pela rainha Elizabeth I às cortes alemã e francesa (1576), secretamente instruído para sondar a posição dos príncipes acerca da formação de uma liga protestante, que poderia proteger a Inglaterra contra o ameaçador poderio da Espanha católica. Pouco prestigiado pela rainha, decidiu dedicar-se cada vez mais à literatura, porém não permitiu, em vida, a publicação de suas obras, cujos manuscritos circulavam apenas entre os amigos mais próximos. Na defesa da rainha Elizabeth contra o domínio espanhol, assumiu o comando de uma companhia de cavalaria junto aos holandeses. Foi ferido em combate na cidade de Zutphen e morreu em Arnhem, Países Baixos. Sua obra literária, editada postumamente (1590), exerceu influência notável no desenvolvimento da literatura inglesa e, entre seus principais livros estão Arcadia (1580), Astrophel and Stella (1582) e Defesa da Poesia. Fonte da biografia »

O reinado de Elizabeth I foi não apenas o período em que a Inglaterra ascendeu à posição dominante no Ocidente, mas também aquele que viu surgir uma plêiade de escritores do calibre de Shakespeare, Marlowe e Ben Johnson. Na corte, longe das ruas e dos teatros, Sir Philip Sidney, em resposta às acusações feitas pelos puritanos, de que o drama e a poesia incitavam à imoralidade, escreve uma ardente apologia da literatura, a Defesa da Poesia.

Mais do que isso, contudo, acaba por constituir-se em teorização geral sobre a poesia, ao mesmo tempo que, no século que assistiria ao surgimento de Shakespeare, empreende um balanço da então nascente literatura da Inglaterra, bem como exalta a língua inglesa e sonda suas virtualidades literárias. Não obstante fortemente fundamentada em valores renascentistas, e assim professando uma ideia clássica acerca da natureza e função das letras, nem por isso a obra deixa de apresentar surpreendentes tangências com noções formuladas na modernidade, como, por exemplo, a legitimação da poesia não por suas afinidades com a filosofia, mas por sua especificidade e suas diferenças em relação àquela disciplina.

Fichamento: Defesa da Poesia, de Sir Philip Sidney, escrito originalmente em cerca de 1582–1583. Editora Iluminuras LTDA, 2002 (obra Defesas da Poesia, duas em uma: além do ensaio de Sidney contém o ensaio de Shelley, Uma Defesa da Poesia). Tradução de Enid Abreu Dobránszky. O método usado no seguinte fichamento é bem simples: citações diretas destacadas e, por vezes, notas minhas sobre tais citações. Fichamento abaixo:

[Introdução] Que a culta Grécia, em qualquer de suas múltiplas ciências, mostre-me um livro que tenha sido escrito antes de Musaios, Homero e Hesíodo, poetas todos os três. (p. 92)

[…] na língua italiana, os primeiros que a fizeram aspirar à condição de tesouro do conhecimento foram os poetas Dante, Boccaccio e Petrarca. (p. 92)

[…] durante muito tempo os filósofos da Grécia não ousaram mostrar-se ao mundo senão sob o disfarce de poetas. (p. 92)

[…] em todas as nações até os dias de hoje, mesmo naquelas em que o saber não floresceu existe ainda assim algum sentimento da poesia. Na Turquia, à exceção dos seus sacerdotes legisladores, todos os escritores são poetas. Na nossa vizinha Irlanda, onde o saber é verdadeiramente muito escasso, seus poetas são todavia reverenciados. Mesmo entre os índios mais bárbaros e simplórios, que desconhecem a escrita, encontramos poetas que compõem e cantam canções, às quais […] (p. 93)

Entre os romanos, ao poeta chamavam vates, o que significa tanto adivinho, visionário quanto profeta […] (p. 94)

Mas vejamos agora como os gregos designaram o poeta e que juízo dele fizeram. Os gregos chamaram-no “poeta”, nome que passou para as outras línguas por ser o mais perfeito. Ele deriva da palavra poiein, que significa fazer; por esse motivo, não sei se por sorte ou sabedoria, nós, ingleses, concordamos com os gregos ao chamá-lo criador […] (p. 95)

A natureza nunca revestiu a terra com tão rica tapeçaria como o fizeram os diferentes poetas; nem com rios tão encantadores, árvores frutíferas, flores olorosas, nem qualquer outra coisa que possa tornar mais adorável a tão amada terra. Seu mundo é de bronze; apenas aquele que nos apresentam os poetas é de ouro. (p. 97)

[…] a plenitude do homem nunca de manifesta com tanta clareza como na poesia, na qual o poeta, com a força do sopro divino, produz coisas que ultrapassam de muito as obras da natureza. (p. 97–98)

A poesia é, pois, uma arte de imitação, uma vez que Aristóteles a define pela palavra mímesis, isto é, uma representação, uma simulação, ou figuração — para falar metaforicamente, uma imagem eloquente — cuja finalidade é ensinar e dar prazer. São três os gêneros nos quais ela se divide. […] aquele no qual os poetas imitaram as inconcebíveis qualidades de Deus. […] O segundo gênero é o daqueles poemas que tratam de assuntos filosóficos […] Mas como neste segundo gênero os poetas estão restritos aos limites do assunto proposto e não seguem o curso de sua própria invenção, cabe aos gramáticos decidir se é apropriado denominá-los poetas. […] o terceiro gênero […] poetas no sentido próprio da palavra […] (p. 98–99)

[…] o verso é apenas um ornamento, e não a essência da poesia, uma vez que muitos poetas excelentes o ignoraram e agora são numerosos os versificadores que não merecem ser chamados de poetas. […] não é o ritmo nem o verso que fazem um poeta, tanto quanto não é um longo manto que faz um advogado […] (p. 99 – 100)

[Poesia X Filosofia] Comparemos pois o poeta com o historiador e com o filósofo da moral e, se ele superar a ambos, nenhuma outra ciência humana poderá comparar-se à poesia. […] Ora, como nenhum outro, o poeta realiza ambas as tarefas: pois de tudo que o filósofo prescreve ele dá uma imagem perfeita, retratando alguém que ele pressupõe ter realizado o ato virtuoso e, assim, une a noção geral ao exemplo particular. Uma imagem perfeita, digo eu, pois oferece às faculdades espirituais uma imagem da qual o filósofo faz apenas uma descrição prolixa, que nem impressiona, nem penetra, nem arrebata os olhos da alma como o faz a imagem poética. […] Direi pois, para concluir, que o filósofo ensina, mas ensina de forma obscura, de modo que somente o erudito pode entendê-lo; isto é, ensina àqueles que já sabem. Mas o poeta alimenta estômagos mais delicados e é, com efeito, o verdadeiro filósofo popular […] (p. 102–105)

Note do leitor: O filósofo Olavo de Carvalho escreveu em seu ensaio Poesia e Filosofia: A filosofia é a busca da sabedoria, a poesia é a sabedoria em busca dos homens. Isto é tudo, e não há mais diferença alguma. São como as duas colunas do templo, o Rigor e a Misericórdia — aquilo que a sabedoria exige, aquilo que a sabedoria concede. Por esta razão não podem nem se desentender de todo, nem identificar-se por completo. Nem pode a filosofia deixar de ser uma poesia que se recolheu ao estado de experiência interior, nem pode a poesia deixar de ser uma filosofia in nuce.

[Poesia X História] […] quando se trata da utilidade e da edificação, de escolher entre uma imagem do que ele poderia ter sido ou a do que ele foi, com certeza é então mais eficaz o Ciro fictício de Xenofonte do que o Ciro real em Justino, e o Enéias fictício de Virgílio do que o verdadeiro Enéias de Dares Frígio […] Concluo, portanto, que a poesia é superior à história, não apenas por proporcionar saber ao espírito, mas por incitá-lo àquilo que merece ser chamado e julgado justo: essa incitação e essa exortação às boas ações, na verdade, colocam na fronte do poeta o laurel da vitória, acima não somente do historiador, mas também do filósofo, conquanto, no que diz respeito ao ensinamento, a supremacia sobre este último possa ser questionada. […] (p. 106–109)

[Da Comédia] […] a comédia é uma imitação dos nossos erros comuns, os quais o cômico representa da maneira mais ridícula e desprezível que se possa imaginar a fim de sustar qualquer desejo que um espectador possa ter de cometê-los. (p. 114)

Nota do leitor: Aristóteles nos diz em Sobre a Arte Poética: “A comédia é, como já dissemos, imitação de maus costumes, mas não de todos os vícios; ela só imita aquela parte do ignominioso que é o ridículo”.

[Da poesia heróica] […] se já se disse algo em defesa da doce poesia, tudo concorre para defender a poesia heróica, que não é apenas um tipo de poesia, mas a melhor e mais perfeita. Pois, assim como a imagem de cada ação desperta e instrui o espírito, também a imagem grandiosa desses heróis nele inflama o desejo de ser heróico e lhe indica como consegui-lo. […] ele não apenas supera o historiador, mas, por instruir, é comparável ao filósofo e supera-o de muito quando se trata de incitar à ação; uma-vez quê grande parte das Sagradas Escrituras (livres de toda-impureza) é poética e até mesmo Jesus Cristo nosso Salvador dignou-se ele próprio a empregar suas flores […] julgo (e creio ter motivos para tanto) que a coroa de louros destinada aos capitães vitoriosos deveria, com toda justiça, consagrar o triunfo do poeta sobre todas as outras ciências. (p. 116–117)

[Poesia para o ensino] [a rima e o verso não fazem a poesia. Pode-se ser poeta sem fazer versos e fazer versos sem fazer poesia. […] as palavras que melhor se adaptam à memória são igualmente as que melhor servem ao conhecimento. […] o verso possui uma capacidade muito maior de imprimir na memória do que a prosa […] Além disso, como uma palavra, por assim dizer, chama outra, do mesmo modo, graças à rima ou à métrica, pela primeira se adivinha a seguinte. […] é isso que o verso na verdade faz com perfeição, dispondo cada palavra em seu lugar natural […] Que o verso seja adequado à memória prova-o claramente toda tradição das artes: na maioria, da gramática à lógica, na matemática, na física e em outras mais, as regras fundamentais que devem ser aprendidas são compiladas em versos. Assim, uma vez que o verso é por si só agradável e regular e o que mais convém à memória, o supremo instrumento do conhecimento, todo aquele que se pronuncie contra ele deve ser alvo de zombaria. (p. 118–119)

Nota do leitor: Para Aristóteles, em Sobre a Arte Poética, aprender através da poesia é prazeroso a todos, até mesmo aos filósofos.

[Das censuras aos poetas e respostas às censuras] Passemos agora as principais censuras feitas aos pobres poetas. Tanto quanto sei, são as seguintes. Em primeiro lugar, que, havendo muitas outras ciências mais proveitosas, seria preferível despender mais tempo nelas do que na poesia. Em segundo, que ela é mãe das mentiras. […] terceiro, que ela é nutriz da imoralidade, que nos infecta com muitos desejos pestilentos […] (p. 119)

Comecemos pela primeira […] não existe melhor conhecimento do que aquele que ensina a virtude e a ela incita e que nenhum outro ensina e incita ao mesmo tempo tanto quanto a poesia […] não existe melhor destinação para tinta e papel do que essa. […] Ao segundo […] isto é, que os poetas sejam os maiores de todos os mentirosos, consequentemente dou uma resposta paradoxal, porém sincera, verdadeiramente sincera: de todos os escritores sobre a face da Terra, o poeta é o que menos mente e, ainda que quisesse, ser-lhe-ia impossível fazê-lo. […] Ora, o poeta, de sua parte, nada afirma e portanto nunca mente. Pois, no meu entender, mentir é afirmar ser verdade o que é falso. […] na verdade, seu intento não é dizer-vos o que é e o que não é, mas o que deveria ou não deveria ser. […] Se um homem, desde criança, consegue compreender que os personagens dos poetas, assim como suas ações, são simplesmente representações imaginadas, e não histórias reais, jamais qualificaremos como mentiras coisas escritas com a intenção, não de afirmar, mas de representar alegórica e figurativamente. […] O terceiro […] Dizem que as comédias antes ensinam do que censuram idéias licenciosas. Dizem que a poesia lírica está besuntada de sonetos apaixonados; que o poeta elegíaco chora a ausência de sua amante e que até mesmo ao poema heróico o intrépido Cupido alcançou. […] é o entendimento que insulta a poesia, e não a poesia que insulta o entendimento […] Mas deverá então o mau uso de uma coisa torná-la repulsiva, mesmo quando dela se faz bom uso? Certamente que não […] a arte da medicina, a melhor defesa de nossos corpos contra ataques tão frequentes, quando mal usada nos mostra como fazer veneno, o mais violento dos males destruidores? O conhecimento do direito, cujo fim é a equidade e a justiça de todas as coisas, quando mal usado não pode ele se tornar a abominável nutriz de crimes horríveis? E até mesmo (passando ao mais elevado) a palavra de Deus, quando dela se fez mau uso, não alimentou à heresia, e Seu nome, mal empregado, não se tornou blasfêmia? […] com uma espada podeis matar vosso pai e com ela podeis igualmente defender vosso príncipe e vosso país. […] (p. 120–122)

[Platão e os poetas] [Poesia X Filosofia] […] contra mim invoca-se o nome de Platão, que, de todos os filósofos, devo confessar, é aquele a quem mais reverencio e por um bom motivo: é o mais poético. No entanto, uma vez que ele parece contaminar a fonte da qual jorram suas águas, examinemos sem temor por que razões o fez. Em primeiro lugar, é verdade que alguém poderia objetar maliciosamente que Platão, sendo um filósofo, era um inimigo natural dos poetas. Com efeito, os filósofos, depois de terem colhido dentre os doces mistérios da poesia os verdadeiros assuntos do saber, neles estabelecendo um método e instituindo uma arte de escola com aquilo que os poetas ensinavam unicamente por um prazer divino, começaram, como aprendizes ingratos, a desdenhar de seus guias e não se contentaram apenas com abrir suas próprias lojas, mas procuraram por todos os meios desacreditar seus mestres […] sete cidades reivindicavam ser o lugar de nascimento de Homero, enquanto que muitas delas baniam os filósofos como membros indignos de seu convívio. (p. 124–125)

Mas respeito os ensinamentos dos filósofos e sou agradecido aos espíritos que os professam: não deverão, pois, ser alvo de ofensas, nem tampouco os poetas. […] O próprio são Paulo (que, para a honra dos poetas, citou duas vezes dois poetas, e uma delas sob nome de “profeta”) lançou um alerta contra a filosofia — na verdade, contra seu mau uso. Assim também o fez Platão: não contra a poesia, mas contra seu mau uso. Platão censurava os poetas de sua época por difundirem opiniões falsas sobre os deuses, utilizando essas essências puras para criar contos levianos, e não queria, desse modo, que a juventude fosse corrompida com tais opiniões. Sobre isso muito se poderia ainda dizer. Mas bastará o seguinte argumento: os poetas não induziram tais opiniões, mas sim repetiram as que existiam. Pois todas as histórias gregas atestam à farta que a própria religião daquela época repousava sobre muitas divindades de tipos diversos, não inventados pelos poetas, mas imitadas segundo sua forma consagrada. […] os filósofos, os quais, expulsando a superstição, trouxeram o ateísmo. Portanto, Platão (cuja autoridade eu desejaria antes interpretar, entendendo suas justas razões, do que contestar pelos motivos errados) não se referia aos poetas em geral […] Ele pretendia tão-somente eliminar aquelas falsas opiniões da Divindade, hoje, sem nenhuma indulgência, purgada de todas as crenças funestas pelo cristianismo […] E ninguém precisa ir além do que foi o próprio Platão para conhecer sua intenção. pois em seu diálogo intitulado Íon fez à poesia um elogio supremo e lhe atribuiu uma origem divina. Assim, Platão, que baniu não a coisa, mas seu mau uso, e que não baniu a poesia, mas lhe rendeu homenagem, será nosso patrono, e não nosso adversário. (p. 125–126)

[…] o Sócrates grego, que Apolo afirmou ser o único sábio dentre os homens, e que, segundo se diz, dedicou parte de sua velhice a pôr em versos as fábulas de Esopo. Logo, ficaria muito mal se Platão, seu discípulo, pusesse tais palavras contra os poetas na boca de seu mestre. […] Aristóteles escreveu um tratado sobre poesia: por que, se não era necessária? Plutarco mostrou que proveito se pode obter dos poetas: como, se eles não deviam ser lidos? E quem ler a obra histórica ou a obra filosófica de Plutarco verificará que ele as vestiu, a ambas, com os adornos da poesia. (p. 126–127)

[A poesia como dom divino] [Do ser poeta] […] aqueles que se deliciam com a poesia procurar saber o que fazem e como o fazem, e sobretudo examinar-se no espelho pouco lisonjeiro da razão, se não lhes faltar coragem. Pois a poesia não deve ser arrastada pelas orelhas; ela deve ser conduzida gentilmente, ou melhor, deve conduzir — motivo, em parte, que levou os sábios da Antiguidade a ser ela era um dom divino, e não uma habilidade humana, uma vez que todas as outras ciências apresentam-se prontas para quem quer que possua um espírito vigoroso. Nenhum empenho pode fazer de alguém um poeta, a menos que sua própria vocação o arraste à poesia. Como diz um velho provérbio, orator fit, poeta nascitur. Contudo, devo confessar que, assim como o mais fértil dos campos necessita ser cultivado, também o espírito capaz dos dos mais altos vôos tem Dédalo como guia. (p. 129)

Orator fit, poeta nascitur: “o orador torna-se orador; o poeta nasce poeta”.

[O poeta para alguns autores] […] crer, como Aristóteles, que eles foram os antigos guardiães do tesouro dos deuses gregos; a crer, como Bembo, que eles foram os primeiros portadores da civilização; a crer, como Scaliger, que nenhum dos preceitos dos filósofos pode levar tão prontamente um homem à virtude quanto a leitura de Virgílio; a crer, com Clauserus, […] que à Divindade celeste aprouve nos dar todo o saber, a lógica, a retórica, a filosofia moral e da natureza […] sob o véu das fábulas de Hesíodo e de Homero; a crer, como eu, que há muitos mistérios na poesia, na qual intencionalmente foram escritos de forma obscura para que espíritos profanos deles não fizessem mau uso […] (p. 138)

[A maldição de Sidney aos que desprezam a poesia] Mas se (para vossa desgraça) tiverdes nascido tão perto da fragorosa catarata do Nilo que sejais surdos à música planetária da poesia; se tiverdes espíritos tão presos ao solo que não consigais alçar os olhos às alturas da poesia, ou antes, por um certo desdém rústico, portar-vos de modo tão estúpido a ponto de vos tornardes um Momo da poesia, então, embora eu não deseje para vós as orelhas do asno de Midas, nem que sejais levados, pelos versos de um poeta, como Bubonax, a enforcar-vos, nem a serdes mortos pelos encantamentos da poesia, como se diz ter acontecido na Irlanda, ainda assim vos envio esta maldição, em nome de todos os poetas: que, enquanto viverdes, vivereis apaixonados e nunca sereis correspondidos porque vos faltará o talento para compor um soneto e, quando morrerdes, vossa memória será varrida da terra por falta de um epitáfio. [Grifo meu]

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Publicado por Anderson C. Sandes

Poeta, cronista, ensaísta, autor de Baseado em Fardos Reais; Arte e Guerra Cultural: preparação para tempos de crise; organizador da Antologia Quando Tudo Transborda. Pedagogo. Vivo de poesia pra não morrer de razão.

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