Poesia

Recriação

The Fall of Man (1592), by Cornelis Cornelisz. van Haarlem

Teus olhos em perigeu me sondam
Conhece cada víscera de meu pensamento
Dá nome às quimeras que no peito rondam
Conta a rota dos pés em enfadamento

Lavra-me o rosto, em lágrima regas
Lança a semente, levanta e segas
Leva-me ao sopro, livra da sacudidura
Lembra-me a forja, da linda feitura

Sabes das vias dest’alma que pena
Do coração malquerente, obscuro
Cada pedaço em cheirume, Geena
Da lua azul me observa o futuro

Lavra-me as lágrimas, os rosto regas
Lança e levanta a semente, e segas
Leva-me e livra-me do sopro da sacudidura
Lembra-me da linda forja e feitura

Anderson c. sandes, 30 de outubro de 2023 | Dia do fenômeno astronômico chamado Lua Azul

Explanação técnica:

A primeira estrofe contém um paralelismo sintético (ABAB), o terceiro verso completa e enfatiza o primeiro, e o quarto verso completa e enfatiza o segundo. Na segunda estrofe trabalhei algumas aliterações, a segunda parte do verso repete os sons consonantais da primeira: lavra/rosto — lágrimas/regas, lança/semente — levanta/segas, etc. A terceira estrofe apresenta o mesmo paralelismo da primeira, e ainda amplia e enfatiza as ideias da primeira estrofe. A quarta estrofe segue o mesmo jogo de aliterações da segunda estrofe, mas invertendo o efeito: lavra/lágrimas, rosto/regas, lança/levanta, semente/segas, etc. O esquema de rima das estrofes um e três é ABAB, das estrofes dois e quatro é AABB.

Publicado por Anderson C. Sandes

Poeta, cronista, ensaísta, autor de Baseado em Fardos Reais; Arte e Guerra Cultural: preparação para tempos de crise; organizador da Antologia Quando Tudo Transborda. Pedagogo. Vivo de poesia pra não morrer de razão.

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