Poesia

Muito frio

Claude Monet [The Magpie], 1868–1869 (Detalhe)

Muito frio
Escorado numa parede
Com meias nos pés
Com meias nas mãos
Com meias verdades 
No meio coração.

— Quando por lá chegou, foi acolhido por um tal de Sul. Muito frio. Diferente de tudo que tivera visto. Homem forte, colossal, e aparência opressora. Sua frieza assustava. Muito Frio. 

De tamboretes fez mesas
De porão fez moradia
E um dia se fez… muito frio
Numa noite sombria. 

— Possivelmente, esse anfitrião chamado Sul, virá cobrar favores, falando com escárnio entre os dentes, injúrias escorrendo pelos lábios, ameaças de fúnebre futuro. E o que será daquele que sente frio? 

Quando chegar então o dia 

De a conta ser cobrada 
O que sente frio pagará 
Mas de forma dobrada 
Da mesma forma em que foi recebido: 
Muito frio, muito frio, muito frio. 
Mas e agora? Este deverá ser punido? 
Em minha opinião, não desta vez. 

Pois houve frio, e frio se fez. 

Muito frio.

Anderson C. Sandes — Novembro de 2014

Published by Anderson C. Sandes

Poeta, cronista, ensaísta, autor de Baseado em Fardos Reais; Arte e Guerra Cultural: preparação para tempos de crise; organizador da Antologia Quando Tudo Transborda. Pedagogo. Vivo de poesia pra não morrer de razão.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *