Poesia

Das memórias que perdi

Hendrik G. Pot [The Coin Collector], 1655 (Detalhe)

Quem seria eu agora,
sem saber quem fora em outrora?
Se dantes fui moço,
tento debalde recordar das paixões…
[…] oxalá! Que eu tenha tido, meu Deus!

Fito as pinturas nas paredes,
sem saber se as amava ou as detestava.
Oh, como é bela aquela tela,
que eu achava antes dela?
Nem sei mesmo quem a pintou.

Folheio fotos rotas,
de estranhas e estranhos.
— Este é fulano!
Diz-me uma voz estranha.
Indigno-me ao estranhar.

Ah, que saudade de quem fui!
Devo ter sido importante pra mim!
Disso sei, saberia se não fosse.
E quanto a esta que me cuida?
Seria importante assim também?

Recordo de pratos que adorava,
mas não lembro o sabor…
Havia um envolvido de. . . de. . .
[…] De tristeza, de dor…
(Eis que agora me enojam)

Tal qual esses mancebos,
que me tratam como mais jovens que eles…
Quiçá novo eu seja, pois de tudo me esqueci;
não consigo mais me achar,
não sei onde me perdi.

Anderson C. Sandes — Abril de 2018

Publicado por Anderson C. Sandes

Poeta, cronista, ensaísta, autor de Baseado em Fardos Reais; Arte e Guerra Cultural: preparação para tempos de crise; organizador da Antologia Quando Tudo Transborda. Pedagogo. Vivo de poesia pra não morrer de razão.

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