Poesia

Pobres

Jean-Léon Gérôme [Diogenes], 1860 (Detalhe)

Ali tinha um pobre que nada tinha
Acolá, outro pobre, que tudo tinha
Semelhanças?
Ambos nada tinham
Diferenças?
O de ali achava que não tinha
O de acolá sentia que não tinha

Nada eram
Nem se conheciam
Mas se viam
Todos os dias

Dos jornais que o de acolá lia
O de ali se cobria
Dos ossos…
Que era deselegante roer para o de acolá
O pobre de ali, não se acanhava, e roía
Um tinha vaidades, outro coragens
Talvez tudo o que tinham

Aconteceu que um dia…
Daqueles frios e escuros
Veio a morrer o pobre de ali
Em seu cortejo: muita gente
Gente de rua
Que nada tinham

Por ventura, há poucos dias
Daqueles frios e escuros
Veio a falecer o pobre de acolá
E anulando o clichê social…
Ninguém se deu conta
Faz uma semana e dois dias

Nada eram
Nem se conheciam
Nunca mais se viram
Quem sabe algum dia…

Anderson C. Sandes — Novembro de 2015

Publicado por Anderson C. Sandes

Poeta, cronista, ensaísta, autor de Baseado em Fardos Reais; Arte e Guerra Cultural: preparação para tempos de crise; organizador da Antologia Quando Tudo Transborda. Pedagogo. Vivo de poesia pra não morrer de razão.

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