Ali tinha um pobre que nada tinha
Anderson C. Sandes — Novembro de 2015
Acolá, outro pobre, que tudo tinha
Semelhanças?
Ambos nada tinham
Diferenças?
O de ali achava que não tinha
O de acolá sentia que não tinha
Nada eram
Nem se conheciam
Mas se viam
Todos os dias
Dos jornais que o de acolá lia
O de ali se cobria
Dos ossos…
Que era deselegante roer para o de acolá
O pobre de ali, não se acanhava, e roía
Um tinha vaidades, outro coragens
Talvez tudo o que tinham
Aconteceu que um dia…
Daqueles frios e escuros
Veio a morrer o pobre de ali
Em seu cortejo: muita gente
Gente de rua
Que nada tinham
Porventura, há poucos dias
Daqueles frios e escuros
Veio a falecer o pobre de acolá
E anulando o clichê social…
Ninguém se deu conta
Faz uma semana e dois dias
Nada eram
Nem se conheciam
Nunca mais se viram
Quem sabe algum dia…
Pobres

Jean-Léon Gérôme [Diogenes], 1860 (Detalhe)