Repousam os versos
Anderson C. Sandes — Novembro de 2015
Onde o poeta não pode descansar
Versos profundos voam
Os de superfícies e os superficiais
Vão às profundezas
E morrem sufocados
Sufocados em terra
Onde cada alma tem sua parte
Prefiro a poesia da lágrima de tinta do pierrot
Que do sorriso da mais bela
Liberta-me o canto fúnebre
Algemam-me os tamborins
Deleito-me nas trevas
Não suporto a luz do dia
O frio me comove
Traz-me cólera o calor
Por vezes a solidão me consola
E a multidão em júbilo me enlouquece
Que sentido há? Que sentido há?
— Olha o circo na cidade
— Que vá logo embora
— O palhaço é meio triste
— Preciso conhece-lo
Não exalto musas ou cidades
“Eu gosto é do estrago”
Não me importo de que seja feito o samba
Mas, de onde vem a calma…
A lua não é dos namorados
É de quem a ninguém tem
O amor não é para os fortes
A guerra o é
Que sentido há? Que sentido há?
Estranhezas me encantam
Clichês me anojam
Que descansem os versos
Não repouse a poesia
Cessem as palavras, mas não cale o poeta
O que escreve das profundezas
Não me importo com os boêmios
Nem com suas canções
Que sentido há? Que sentido há?
O cri cri
![](https://andersonsandes.com.br/wp-content/uploads/2019/10/Antoine-Watteau.-The-Italian-Comedians-1720.jpg)
Antoine Watteau [The Italian Comedians], 1720 (Detalhe)