Não estou chorando,
Anderson C. Sandes — Maio de 2016
estou chovendo!
Chove nos desertos
de minhas pálpebras
pra dentro
Por fora das janelas da alma
observo a chuva.
Cheiro de face molha…
Cheia de nuvens pesadas.
Cinza tal qual dia nublado.
Há enchente nas maçãs
e no canto da boca.
Banquete salgado…
Mesa farta.
Época das cheias.
Terra fértil se faz o rosto.
O que plantarei?
Quiçá um sorriso,
talvez uma micro expressão
de graça… de graça.
Farei a colheita depois!
Com foice ou navalha,
com mãos ou com máquina.
O que for melhor…
O que tiver mais poesia.
Por hora, chove aqui.
Depois vem o sol,
talvez venha a noite
A noite é mais quente
das minhas janelas pra dentro.
Disfarce

Gustave Caillebotte [Paris Street; Rainy Day], 1877 (Detalhe)