Poesia

Pequeno gigante

François Lemoyne [Narcissus], 1728 (Detalhe)

O homenzinho que ora
simula um colosso
faz sua pose desajeitada

Cheio de vazio na garganta,
fala de modo raso
de tudo que é profundo 

Alguém elogiou o personagem — o colosso
e o homenzinho agradeceu
alardeando modéstia 

Não quer subir
nos ombros dos gigantes,
quere-os nos seus 

Vai à noite dormir sem fôlego,
suspirando de amores
pelos livros que não leu 

Com um cantarolar anasalado
daquela bela canção
que nunca ouviu 

Às pressas faz uma prece:
— que me perdoe o perfeccionismo,
amanhã tento melhorar 

Acaba sonhando consigo mesmo,
em preto e branco,
pois é o que alcança a imaginação 

do grande homenzinho,
que de comprido
só a lista do que não cumpriu.

Anderson C. Sandes — Dezembro de 2021

Publicado por Anderson C. Sandes

Poeta, cronista, ensaísta, autor de Baseado em Fardos Reais; Arte e Guerra Cultural: preparação para tempos de crise; organizador da Antologia Quando Tudo Transborda. Pedagogo. Vivo de poesia pra não morrer de razão.

Um comentário sobre “Pequeno gigante”

  1. Gilberto disse:

    Diagnóstico certeiro do caráter de muitos. Humildade é pré requisito para aprendizado e mesmo após aprender devemos permanecermos humildes ante a ignorância que sempre portaremos.

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