Poesia

Elogio à humildade

Ford Madox Brown [Jesus Washes Peter's Feet], 1852-56 (Detalhe)

Dai privação ao opulento
e haverá miséria,
ranger de dentes.
Cessará o riso a contento,
e a canção etérea
outrora correntes

Dai privação ao forte
e restará fraqueza,
vergonha sem par.
Será rota sua sorte,
e manca a destreza
em coro insultar

Dai privação ao de boa ventura
e sobejará ensejos
a passar de largo.
Findará então a fartura
e os seus desejos
lhe estarão a cargo

Dai, todavia, privação ao de humildade,
e qualquer anjo parado
mover-se-á em seu favor.
Nos céus não haverá entidade
andante ou alado
que não ouvirá ao clamor

O humilde é húmus, fecundo,
tem cheiro de morte
aos que de si padecem
Nele o viver é profundo,
pois é o suporte
a raízes que crescem

Anderson C. Sandes — maio de 2022

Publicado por Anderson C. Sandes

Poeta, cronista, ensaísta, autor de Baseado em Fardos Reais; Arte e Guerra Cultural: preparação para tempos de crise; organizador da Antologia Quando Tudo Transborda. Pedagogo. Vivo de poesia pra não morrer de razão.

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