Que mundo de papelão
Anderson C. Sandes — Julho de 2015
Cheio de seres de machê
De vida difícil e de fácil fim
Ah, este mundo de poeira
Cheio de homens de barro
Pequenos porrões pisando em betão pintado
Pintado por mãos
Não por acaso
Vidas insensíveis, a ponto de ceifar
Mais insensíveis ainda, a ponto de
Fazer poesia em memória dos ceifados
Como paredes de areia
E colunas de terra
Em cidade de vento
País das chuvas
Há queda. Akedah
O cosmos conspira em teu favor
Oh, esfera suspensa entre o pó
Mas tu, em tua arrogância
Diz às estrelas: eu sei voar
E há queda. Akedah
Vidas insensíveis a ponto de gerar
Mais insensíveis ainda, a pondo de
Celebrar o nascimento
Nascimento de órfãos
Órfãos de papel, órfãos de barro
Oh mundo de papel
Cheio de homens de barro
Hoje, tua história jaz no papel
Outrora foste no barro
Lendas de seres de machê
De vida difícil e de fácil fim
Em cidade de vento
País das chuvas
Vida em papel

Giuseppe Arcimboldo [The Librarian], 1566 (Detalhe)