Fico cá nesta cidade
Com seus muitos becos
Suas muitas ruelas
De jovens parados
E afazeres efêmeros
Julgo eu, todavia.
Poesia
De passagem
Essas vilinhas bucólicas
Quiçá melancólicas
Com bodes amarrados em algarobeiras
Recordam-me algo que fui, talvez.
Falo de um sujeito mais manso . . .
Nem sei . . .
[Des] Fiz-me
Fogo na caatinga
Fiz-me pardal e voei
Verde na serra
Desfiz-me das asas, pousei
Era belo o caminho
Fiz pra mim botas… e andei
Fresco e calmo era o lago
(… não sei nadar)
Tive medo, e nada virei
Odiava o medo
Fiz-me coragem e nadei
E na coragem… me afoguei
Pedras
O poema a seguir é inspirado em No Meio do Caminho, de Carlos Drummond de Andrade. Segundo uma teoria, o autor teria usado de um anagrama: Pedra tem as mesmas letras que Perda. Segundo ainda tal teoria, o poema teria sido para expressar a perda de seu filho, que sobreviveu apenas por meia hora, depois do parto. Meu poema, apesar da referência, não traz a mesma conotação. Falo de oportunidades perdidas, escolhas, pessoas, e tudo o que se pode optar na vida. Deixo abaixo de meu poema, um recital do poema de Drummond.
Cada qual em seu lugar
Por mais que eu cante
Não me vêm as borboletas
Inda que’u grite
Não me responde a lua
Deve estar cheia… cheia de mim
Profunduras
Plantada é a semente,
e a raiz se aprofunda.
Para ser a mais crescente
mais e mais ela se afunda
Perdoe minha dureza,
mas ser mole me arrasou.
Vim da profundeza
Ser profundo é o que sei,
é o que sou.