Poesia

Do ser o que é

Rembrandt [A Young Scholar and his Tutor], 1629–1630 (Detalhe)

Concentro-me em algaravias amiúdes 
De arquétipos mui caros…
Tento ouvir a todos.
Alguns corifeus de meus valores amados,
Valores escritos em lábaros…
Que se perderam em meio à escatologia,
(E tantas outras “gias”)

Poesia

Mentalidade vermelha

Eugène Delacroix [La Liberté guidant le peuple], 1830 (Detalhe)

Oh, Mentalidade vermelha
Que com foices abrem crânios
E com martelos esmagam a massa cinzenta
Esmagam a massa…
E cinza é o seu futuro
Ego non sum
Não me associo a eles

Poesia

Da vida

Jacob van Hulsdonck [Still Life with Lemons, Oranges and a Pomegranate], 1620–1640 (Detalhe)

Já vi alguns invernos
Já vi alguns infernos
Vi infernos em invernos 
E invernos em infernos

Poesia

Que coisa terrível

Santiago Rusiñol [Senyor Quer in the Garden], 1889 (Detalhe)

Oh, que coisa terrível
parecia fazer aquele homem.
Todos olhavam, se cutucavam e apontavam.
— De que se trata?
Perguntavam os desavisados,
que de longe forçavam as vistas
para ver o conteúdo que o indivíduo portava.

Poesia

Cada dia

Michelangelo Merisi da Caravaggio [David and Goliath], 1599 (Detalhe)

Voam as moscas num tom de fá,
Zum zum zum infernal
Em meio aos corpos fétidos.
Geme a marreta em atrito
Com a bigorna…

Poesia

Esta cidade

Natalia Mikhalchuck [Vilnius evening], 2013 (Detalhe)

Fico cá nesta cidade
Com seus muitos becos
Suas muitas ruelas
De jovens parados
E afazeres efêmeros
Julgo eu, todavia.

Poesia

De passagem

Nicolas Poussin [Landscape with a Calm], 1650–1651 (Detalhe)

Essas vilinhas bucólicas
Quiçá melancólicas
Com bodes amarrados em algarobeiras
Recordam-me algo que fui, talvez.
Falo de um sujeito mais manso . . .
Nem sei . . .

Poesia

[Des] Fiz-me

Fogo na caatinga
Fiz-me pardal e voei
Verde na serra
Desfiz-me das asas, pousei
Era belo o caminho
Fiz pra mim botas… e andei
Fresco e calmo era o lago
(… não sei nadar)
Tive medo, e nada virei
Odiava o medo
Fiz-me coragem e nadei
E na coragem… me afoguei

Poesia

Pedras

Imagem: Reprodução / Internet

O poema a seguir é inspirado em No Meio do Caminho, de Carlos Drummond de Andrade. Segundo uma teoria, o autor teria usado de um anagrama: Pedra tem as mesmas letras que Perda. Segundo ainda tal teoria, o poema teria sido para expressar a perda de seu filho, que sobreviveu apenas por meia hora, depois do parto. Meu poema, apesar da referência, não traz a mesma conotação. Falo de oportunidades perdidas, escolhas, pessoas, e tudo o que se pode optar na vida. Deixo abaixo de meu poema, um recital do poema de Drummond.

Poesia

Cada qual em seu lugar

Ambrosius Bosschaert the Elder [Flower Still Life], 1614 (Detalhe)

Por mais que eu cante
Não me vêm as borboletas
Inda que’u grite
Não me responde a lua
Deve estar cheia… cheia de mim