Poesia

Migração

Melchior d' Hondecoeter [A Pelican and other Birds near a Pool, Known as ‘The Floating Feather’], 1680 (Detalhe)

Migram as aves pro meu coração
Eis que findou meu inverno
Nesse inferno de frieza
Nesses lagos congelantes
Onde meu Narciso feio se contempla
E acha bela sua estranheza 

Poesia

Profunduras

Gustave Doré ["'Alas!' answered Sancho, 'I found him in his shirt, lean, pale, and almost starved, sighing for his Lady Dulcinea'" from Don Quixote], 1863 (Detalhe)

Plantada é a semente,
e a raiz se aprofunda.
Para ser a mais crescente
mais e mais ela se afunda

Perdoe minha dureza,
mas ser mole me arrasou.
Vim da profundeza
Ser profundo é o que sei,
é o que sou.

Poesia

Soneto de tímido

René Magritte [The Son of Man], 1946 (Detalhe)

Oh, ser estranho, permaneça fechado
P’ra que não fujam teus monstros
E que não haja muitos encontros
Entre tu, libertador, e o libertado

Downloads

Morte e vida severina — João Cabral de Melo Neto

Baixe aqui o PDF da obra de João Cabral de Melo Neto: Morte e Vida Severina. A obra foi escrita entre 1954 e 1955 e publicado em 1955. O nome do livro é uma alusão ao sofrimento enfrentado pelo personagem Severino. O livro apresenta um poema dramático, que relata a dura trajetória de um migrante sertanejo (retirante) em busca de uma vida mais fácil e favorável na capital pernambucana.  O arquivo tem ótima diagramação.

Poesia

Pedro Pedro

Christoffer Wilhelm Eckersberg [Pont Royal seen from Quai Voltaire], 1812 (Detalhe)

Pedro parecia perecer
Parava, pensava… pulava
Pulava pelos pântanos
Pântanos pensados por Pedro

Pedro pedia pão
Pobre Pedro…
Pesadas portas

Poesia

Milagre de merda

Balthasar Denner [A Gardener], 1735 (Detalhe)

Terna flor
Que adornada de esterco
De dejetos fétidos
De abortos intestinais
De desarranjos, não arranjos
Do putre rejeito dos corpos
Cresce linda e cheirosa
A despeito e por causa
Dessa massa fedorenta

Poesia

Do cuidado

Pierre Auguste Cot [The Storm], 1880 (Detalhe)

Cuidado com as flores!
Não por serem flores,
mas porque nem tudo são flores.

Conserva o que tens!
Para que não te seja
Arrancado o que ainda não tens.

Poesia

Somos sonhos

Claude Monet [Bazille and Camille (Study for "Déjeuner sur l'Herbe")], 1865 (Detalhe)

Sonho acordado
desejando.
Desejando também
sonhar dormindo
Não apenas sonhar,
mas sonhar contigo.

Poesia

O cri cri

Antoine Watteau [The Italian Comedians], 1720 (Detalhe)

Repousam os versos
Onde o poeta não pode descansar
Versos profundos voam
Os de superfícies e os superficiais
Vão às profundezas
E morrem sufocados
Sufocados em terra

Poesia

Pobres

Jean-Léon Gérôme [Diogenes], 1860 (Detalhe)

Ali tinha um pobre que nada tinha
Acolá, outro pobre, que tudo tinha
Semelhanças?
Ambos nada tinham
Diferenças?
O de ali achava que não tinha
O de acolá sentia que não tinha