De todas as minhas voltas…
De todas as minhas voltas…
Uma não reparei
Foi a que dei em torno de mim
Vi tudo o que há de rotação
Mas não percebi minhas sete
Meias-voltas e o voltar
Para o caminho d’onde vim
Profunduras
Plantada é a semente,
e a raiz se aprofunda.
Para ser a mais crescente
mais e mais ela se afunda
Perdoe minha dureza,
mas ser mole me arrasou.
Vim da profundeza
Ser profundo é o que sei,
é o que sou.
Soneto de tímido
Oh, ser estranho, permaneça fechado
P’ra que não fujam teus monstros
E que não haja muitos encontros
Entre tu, libertador, e o libertado
Morte e vida severina — João Cabral de Melo Neto
Baixe aqui o PDF da obra de João Cabral de Melo Neto: Morte e Vida Severina. A obra foi escrita entre 1954 e 1955 e publicado em 1955. O nome do livro é uma alusão ao sofrimento enfrentado pelo personagem Severino. O livro apresenta um poema dramático, que relata a dura trajetória de um migrante sertanejo (retirante) em busca de uma vida mais fácil e favorável na capital pernambucana. O arquivo tem ótima diagramação.
Pedro Pedro
Pedro parecia perecer
Parava, pensava… pulava
Pulava pelos pântanos
Pântanos pensados por Pedro
Pedro pedia pão
Pobre Pedro…
Pesadas portas
Milagre de merda
Terna flor
Que adornada de esterco
De dejetos fétidos
De abortos intestinais
De desarranjos, não arranjos
Do putre rejeito dos corpos
Cresce linda e cheirosa
A despeito e por causa
Dessa massa fedorenta
Do cuidado
Cuidado com as flores!
Não por serem flores,
mas porque nem tudo são flores.
Conserva o que tens!
Para que não te seja
Arrancado o que ainda não tens.