Poesia

Voltas

Carl Frederik Sørensen [A Wreck on the West Coast of Jutland at Sunset], 1847 (Detalhe)

De todas as minhas voltas…
De todas as minhas voltas…
Uma não reparei
Foi a que dei em torno de mim
Vi tudo o que há de rotação
Mas não percebi minhas sete
Meias-voltas e o voltar
Para o caminho d’onde vim

Poesia

Belo

William-Adolphe Bouguereau [The Day of the Dead], 1859) (Detalhe)

Me admiro com o belo
E em tudo que há beleza
Temo por meu túmulo
Minha futura morada
Futura fortaleza
Que não seja feio, meu Deus
Que não seja feia

Poesia

Disfarce

Gustave Caillebotte [Paris Street; Rainy Day], 1877 (Detalhe)

Não estou chorando,
estou chovendo!
Chove nos desertos
de minhas pálpebras
pra dentro

Por fora das janelas da alma
observo a chuva.
Cheiro de face molha…
Cheia de nuvens pesadas.
Cinza tal qual dia nublado.

Poesia

Migração

Melchior d' Hondecoeter [A Pelican and other Birds near a Pool, Known as ‘The Floating Feather’], 1680 (Detalhe)

Migram as aves pro meu coração
Eis que findou meu inverno
Nesse inferno de frieza
Nesses lagos congelantes
Onde meu Narciso feio se contempla
E acha bela sua estranheza 

Poesia

Profunduras

Gustave Doré ["'Alas!' answered Sancho, 'I found him in his shirt, lean, pale, and almost starved, sighing for his Lady Dulcinea'" from Don Quixote], 1863 (Detalhe)

Plantada é a semente,
e a raiz se aprofunda.
Para ser a mais crescente
mais e mais ela se afunda

Perdoe minha dureza,
mas ser mole me arrasou.
Vim da profundeza
Ser profundo é o que sei,
é o que sou.

Poesia

Soneto de tímido

René Magritte [The Son of Man], 1946 (Detalhe)

Oh, ser estranho, permaneça fechado
P’ra que não fujam teus monstros
E que não haja muitos encontros
Entre tu, libertador, e o libertado

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Morte e vida severina — João Cabral de Melo Neto

Baixe aqui o PDF da obra de João Cabral de Melo Neto: Morte e Vida Severina. A obra foi escrita entre 1954 e 1955 e publicado em 1955. O nome do livro é uma alusão ao sofrimento enfrentado pelo personagem Severino. O livro apresenta um poema dramático, que relata a dura trajetória de um migrante sertanejo (retirante) em busca de uma vida mais fácil e favorável na capital pernambucana.  O arquivo tem ótima diagramação.

Poesia

Pedro Pedro

Christoffer Wilhelm Eckersberg [Pont Royal seen from Quai Voltaire], 1812 (Detalhe)

Pedro parecia perecer
Parava, pensava… pulava
Pulava pelos pântanos
Pântanos pensados por Pedro

Pedro pedia pão
Pobre Pedro…
Pesadas portas

Poesia

Milagre de merda

Balthasar Denner [A Gardener], 1735 (Detalhe)

Terna flor
Que adornada de esterco
De dejetos fétidos
De abortos intestinais
De desarranjos, não arranjos
Do putre rejeito dos corpos
Cresce linda e cheirosa
A despeito e por causa
Dessa massa fedorenta

Poesia

Do cuidado

Pierre Auguste Cot [The Storm], 1880 (Detalhe)

Cuidado com as flores!
Não por serem flores,
mas porque nem tudo são flores.

Conserva o que tens!
Para que não te seja
Arrancado o que ainda não tens.