Poesia

Silêncio

Criança dormindo no berço (1928) de Hermann Knopf

Deleito no silêncio de minha voz
No silêncio da criança e suas bonecas
Das panelas a borbulhar no fogo
Da brisa que invade a casa com suas companheiras de estação:
As flores da mangueira

Poesia

Recriação

The Fall of Man (1592), by Cornelis Cornelisz. van Haarlem

Teus olhos em perigeu me sondam
Conhece cada víscera de meu pensamento
Dá nome às quimeras que no peito rondam
Conta a rota dos pés em enfadamento

Poesia

Elogio à humildade

Ford Madox Brown [Jesus Washes Peter's Feet], 1852-56 (Detalhe)

Dai privação ao opulento
e haverá miséria,
ranger de dentes.
Cessará o riso a contento,
e a canção etérea
outrora correntes

Poesia

Quiasma cósmico

Martin Johnson Heade [Sailing by Moonlight], 1860 (Detalhe)

Circunda a rotunda Selene
Ao agito de frias ondas
A banhar a alva areia
Tão clara ao brilho perene
Arrefece amantes em rondas
Sob a bela lua cheia

Poesia

Sublimação

Joshua Reynolds [David Garrick Between Tragedy and Comedy], 1761 (Detalhe)

A tinta que ora jorra o impresso
fora hemorrágica em outrora,
pulsa produtividade tal
da inatividade vital de agora.
Ah, vintém poupado ao bolso,
não vai ao divã, ao fosso,
sublimou da mágoa ao gozo
o dente amarelo restaurado.

Poesia

Outdoors

Ignatius Josephus Van Regemorter [The Fish Market in Antwerp], 1827 (Detalhe)

Todo crível agora incrível
Qualquer sutileza é histórica
O distante faz-se acessível
Toda bravata é heróica
Rotidão: imperecível
Todo babado em retórica

Poesia

Soneto em ré menor

Peter Paul Rubens [The Great Last Judgement], 1617 (Detalhe)

Sobre os pardos caibros e branco gesso
Soa altivo um ré menor, amiúde
Que avizinha-se à minh’alma, ao espesso
Qual u’a melancolia em amplitude

Poesia

Soneto à prole

Claude Monet [The cradle], 1867 (Detalhe)

Há bosquejo meu em tua tenra alma
Maquete nossa em tal ventre matriz
Que muito o embala, acalenta e dá calma
Partícipes em teus sonhos pueris