Fichamentos e Resenhas

A vida intelectual — A. D. Sertillanges

I – A vocação intelectual

I – O intelectual é um consagrado

Uma vocação não se satisfaz com leituras vagas nem com pequenos trabalhos dispersos. Requer penetração continuidade e esforço metódico, no intuito duma plenitude que responda ao apelo do Espírito e aos recursos que lhe aprouve comunicar–nos.

Poesia

Deserto

Jean-Léon Gérôme [On the Desert], 1867 (Detalhe)

Quem nunca deixou
pegadas na areia?
Quem não sentiu
o pé no chão queimar?
Nesse deserto
toda alma vadeia.
Quem nunca teve
grão vil no olhar?

Poesia

Ave preta

Imagem: Francisco Souza / Flickr (com edição)

Oh, aquela ave preta
sobre galhos rijos cinzentos.
Oh, meu sertão que se encontra verde,
tudo um pouco mais belo.
Mas a ave insiste co’a morte
ao pousar naqueles galhos podres.
Podres, mas rijos.

Poesia

Da chuva que cai

Childe Hassam [Rainy Day, Boston], 1885 (Detalhe)

Quão apressadas caem
essas gotas nos torrões.
Como quem sente saudade,
logo voltam a correr, seguem o curso
como fora em outrora.

Poesia

Do ser o que é

Rembrandt [A Young Scholar and his Tutor], 1629–1630 (Detalhe)

Concentro-me em algaravias amiúdes 
De arquétipos mui caros…
Tento ouvir a todos.
Alguns corifeus de meus valores amados,
Valores escritos em lábaros…
Que se perderam em meio à escatologia,
(E tantas outras “gias”)

Poesia

Da vida

Jacob van Hulsdonck [Still Life with Lemons, Oranges and a Pomegranate], 1620–1640 (Detalhe)

Já vi alguns invernos
Já vi alguns infernos
Vi infernos em invernos 
E invernos em infernos

Poesia

Cada dia

Michelangelo Merisi da Caravaggio [David and Goliath], 1599 (Detalhe)

Voam as moscas num tom de fá,
Zum zum zum infernal
Em meio aos corpos fétidos.
Geme a marreta em atrito
Com a bigorna…

Poesia

Voltas

Carl Frederik Sørensen [A Wreck on the West Coast of Jutland at Sunset], 1847 (Detalhe)

De todas as minhas voltas…
De todas as minhas voltas…
Uma não reparei
Foi a que dei em torno de mim
Vi tudo o que há de rotação
Mas não percebi minhas sete
Meias-voltas e o voltar
Para o caminho d’onde vim

Poesia

Chega o tempo

Hans Baldung [The Three Ages of Man and Death], 1510 (Detalhe)

Relembrando um verso antigo
Cheguei à conclusão
De que nada é tão antigo
Que não toque um coração
De forma tão severa
Como a chuva toca o chão

Poesia

Vida em papel

Giuseppe Arcimboldo [The Librarian], 1566 (Detalhe)

Que mundo de papelão

Cheio de seres de machê
De vida difícil e de fácil fim

Ah, este mundo de poeira

Cheio de homens de barro
Pequenos porrões pisando em betão pintado
Pintado por mãos
Não por acaso