Poesia

Cosmos jardim

Otto Stark [Garden in Paris], 1885 (Detalhe)

Bem arado foi o céu

Enchido com sementes de estrelas
Como serão suas flores?
Rosadas de luz? Cheias de cores?
Quem as colherá? Quem escolherá?

Poesia

Eu oposto

Jacob Jordaens [Two Studies of the Head of an Old Man], 1630 (Detalhe)

Por vezes durmo na clave de sol
E acordo na clave de fá
E tudo mexe…
Tudo sai do lugar

Nesses dias prefiro um banho frio
E uma janta quente
Tudo como não é de costume

Poesia

Humor solitário

Rembrandt [Titus, the Artist's Son], 1660 (Detalhe)

Algo me trouxe alegria
E resgatou o meu riso
Como qualquer bobo que ri
Ri

Como quem sente cheiro de café
Como quem ouve as primeiras palavras de criança
Como o por do sol que traz o Shabbat
Como um “eu te amo” antes de dormir

Poesia

Vida em papel

Giuseppe Arcimboldo [The Librarian], 1566 (Detalhe)

Que mundo de papelão

Cheio de seres de machê
De vida difícil e de fácil fim

Ah, este mundo de poeira

Cheio de homens de barro
Pequenos porrões pisando em betão pintado
Pintado por mãos
Não por acaso

Poesia

De Babilônia a Patmos

Peter Paul Rubens [Daniel in the Lions' Den], 1614–1616 (Detalhe)

Vem vindo um mar de gente
Seguram-se os ventos de guerra
Há um animal que governa
E oprime um povo inocente

Poesia

Um lugar pra viver

Vincent van Gogh [Farmhouse in Provence], 1888 (Detalhe)

Ah, quem me dera um lar no Pacífico
De fronte ao oceano sem memória
Eu não sei nadar. Eu não sei nada
Quero um lar pacífico, quero uma história.

Infantil, Poesia

Correr como criança

Claude Monet [The Artist's Garden at Vétheuil], 1880 (Detalhe)

Que saudade de correr
Mas correr como criança
Correr atrás da bola
Correr atrás da abelha
Correr para abraçar
Correr, só por correr

Poesia

Só riso

Bartolomé Esteban Murillo [Two women at a window], 1660 (Detalhe)

Dentre os dentes há sorriso, só riso.
Olha o olhar, uma dose alegre. Uma dó… se alegre!
Não se mente para a mente. Mas a mente sempre mente.
Um dia desabafaremos. Desaba… faremos de novo.

Poesia

[Po] Ética de jardineiro

Vincent van Gogh [Irises], 1889 (Detalhe)

Nos tempos em que eu [poes] ia
Ver [so] as flores no jardim
Me faltava [inspir] ação, ao regar
As borbo let[r]as em cima da jasmim.

Anderson C. Sandes —Fevereiro de 2015
Música, Poesia

Incerta canção

Jan Ekels II [A Writer Trimming his Pen], 1784 (Detalhe)

Um poema que, na voz e violão de Gil Silva, amigo meu, tornou-se canção. O eu lírico expressa falta de pertencimento, solidão, desmotivação, dúvidas. Expressa contrastes e sínteses das coisas que vê: aves felizes voando em meio à fumaça; sorriso amarelo (expressão de falsidade) combina-se com azul (símbolo de euforia), resultando num verde sem graça, etc.